“A mulher que bebe”. Já fui identificada
assim, certa vez, num bar distante. Virou uma pequena alcunha, embora não de
todo verdadeira. Sempre fui fraca para
bebidas, embora goste delas. Menos dos destilados, mas nesse frio um conhaque
me faz companhia nas noites, dose suficiente pra esquentar o peito, ou quase. “É
necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e vos faz pender
para a terra, é preciso que vos embriagueis sem tréguas. Mas – de quê? De
vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos
embriagueis.” dizia Baudelaire. Ou como diria a minha sábia cunhada Martinha: “Uma
mulher que bebe é uma mulher muito mais feliz...”
Talvez sejam os defeitos que nos permitam a
embriaguez.
Pensando
nisso saio pela rua, vou ao bar e compro duas cervejas comuns. Pretendo tomar
garrafa e meia, amanhã tenho trabalho cedo.
Beber sozinha é uma liberdade conquistada. Lembro-me da primeira vez que
vi uma amiga fazendo isso. Surpresa, imitei o ato e desde então o pratico
regularmente. Nem sempre é bom, mas sempre é uma pequena conquista. Beber sozinha
é um teste de convivência. Ninguém para dividir suas alegrias e mágoas. As
verdades sendo ditas suavemente ao seu ouvido.
Fumar
já é um hábito que vai e vem controladamente. Desde cedo. Longos períodos de
abstinência porque assim reza a cartilha de uma vida saudável. Mas como uma
pessoa que, machucada, usa muletas, recorro a ele sempre que preciso. Como
agora. A fumaça que arde por dentro também consola. Depois demoro a me livrar
dele, mas quando me sinto mais forte é possível. Foi assim de outras vezes.
Outros
vícios não tenho. A não ser que consideremos vícios o amor e a escrita. Que
muitas vezes se confundem. Esses são perigosos. “O amor é uma droga pesada”,
dizia a poeta Ana Cristina César. E se
matou de tanto amor, ou por falta dele. Sua abstinência provoca delírios,
tremores, insônia. Sua overdose também. A sensação embriagante obriga os
viciados a desconhecerem a razão e a agir como loucos. Quando felizes, no auge
da paixão, vivem flutuantes, por cima do mesquinho cotidiano. Quando tristes,
no auge do abandono, mal conseguem realizar as tarefas comuns. Vivem sempre
fora do mundo, pobres amantes. Desses vícios tenho muito medo, sou ainda
iniciante no assunto. Devo confessar que tenho experimentado ambos, curiosa. Mas
aprendi: qualquer descuido pode ser fatal.
P.S:
A beleza da lua lá fora quase anula a necessidade desse texto. De qualquer
texto. Olhar a lua seria também um vício?
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