Domingo. Chego atrasada para o encontro com minha irmã que vai me
ajudar a comprar uma roupa. Tomamos um café no shopping lotado. Tenho dificuldades
com comprar nem que seja uma coisa à toa. Costumo desistir no meio. Consuelo me
faz experimentar muitos vestidos, que pacientemente escolhe. Deixo alguns reservados
e prometo voltar. Mas na verdade não gostei de quase nenhum. Na segunda loja a maratona
recomeça. Visto um macacão estampado. Isso é estampa de bicho?. Ah...sim , mas
bem discreta. Mas eu sou contra estampas de bicho. Ah...mas ficou lindo! É acho
que vou levar. Preciso experimentar coisas novas. Depois parece um vestido com
flores e ramagens. Acho que esse ficou melhor. Leva os dois. Não posso. Tô sem
grana. Vai levar, sim. Ajudo a pagar.
Parcela de 6 vezes? Sim. Minha mãe a outra irmã chegam e me convencem. Ficou ótimo!
Saio com a sacola da loja chic. Há quanto tempo não fazia isso. Até gostei. Sentamos
para almoçar juntas. Carne. Não costumo comer muita carne, mas preciso aprender
a fazer coisas que não faço. Vai me fazer bem. Tomamos chope. Combinamos coisas
do Natal. Depois vou ao encontro de amigos, de táxi. Comidas de terras do
norte, maniçoba, tacacá, mousse de bacuri. Tantos sabores e carinhos, na casa
da Gigi, nova querida. Vinho. Cigarros
fumados na área de serviço. Risadas. Quase feliz. Volto tarde para casa,
trocando impressões com minha parceira de vida e trabalho, Denise.
Segunda. Dia de trabalho, rescaldo do ano, correndo atrás de grana,
pagando contas.
Terça. Levo minha mãe na terapia. Reencontro os olhos verdes da
moça que nos atende. Tanta doçura e compreensão. Depois do almoço vou a uma
consulta de tarô. Minha mãe acha o máximo. Ela vai adivinhar seu futuro? Não,
mãe. Os oráculos leem nosso inconsciente. Apenas. Quatro horas de conversa com
uma maga, minha vida dos últimos 5 anos passa em revista. Lembro-me da primeira
carta no centro da mandala que se forma. The Devil. Você já perdeu muita
energia com isso. Passou. Foi bom, mas terminou. Agora os caminhos estão se
abrindo de novo. Novo tempo, novas parcerias, nova vida. Saio com a cabeça cheia
de tantas imagens e palavras. A energia se renova. Vou ao encontro da filha, já
impaciente com minha demora. Duas vezes shopping em uma semana. Estou mudada
mesmo. Ganho uma sandália dourada. Saltos vão me fazer bem, deixar essa mulher
mais confiante. Depois de chope e tira-gosto num lugar lotado e com mulheres,
que histéricas, comemoravam o Natal da firma, saímos. Na rua corremos para pegar
o 4403, quase no sinal. Que sorte! Em
casa somos surpreendidas por quatro filhotes de gato no quintal. Coloco leite e
comida, mas deixo-os do lado de fora, com uma caixa de papelão para dormirem.
Quarta. Depois do café com a filha resolvo colocar os gatinhos
dentro de casa, no meu quarto e banheiro. Riva, o gato que acolhi uns dois
meses antes, está agitado. Vou ter que achar um lar para eles. Começo uma campanha
com fotos na internet. Ligo para mil lugares. Gatos nessa época? Difícil. À
noite caio na besteira de vasculhar fotos e vídeos. Dói de novo. Divido um ravióli
com a filha, que chega do trabalho. Mas não sinto muito o gosto. A asma volta
com força, quase não durmo. O quarto com cheiro dos gatos ajudou. Uso a bombinha
muitas vezes. As mulheres são mesmo loucas.
Quinta. Faxina no galpão. Quase não consigo fazer nada. Limpo as
cadeiras junto com a moça. Compro remédios. Vou parar de fumar. Juro. Não
almoço. Saio para ir ao banco. Depois fico em casa. A filha avisa que vai sair
com as amigas. Não devo ficar aqui. Ligo para um amigo e vamos ao cinema.
Hobbit, 3D, no shopping. Três vezes em uma semana. Foi divertido. Nas cenas de
amor, chorei. Sou mesmo uma manteiga derretida.
Sexta. Consegui dormir bem. Saio cedo para a terapia. As mulheres
que me ajudam a dar conta da vida. Levo um livro, “A dor de amar”. Leio um
trecho para ela. Esse alguém que te ouve e refaz junto um percurso. Sinto como
quando andamos de bicicleta com rodinhas atrás, até aprender a se equilibrar.
Despeço-me dela e agradeço. Você está sendo muito importante para mim. A tarde
ajudo minha nora nas arrumações. È bom estar em movimento. Ela é doce e conversamos,
enquanto executamos as tarefas ditas femininas. Volto para casa. Estou mais
animada. Um dos gatinhos consegue um novo lar. O ano do cavalo quase me atropelou,
mas no finzinho dele consigo montá-lo e dizer: agora vou com você.
Sábado. Durmo sem colocar o despertador. Vou com a filha fazer as
unhas. Vermelhas. Há quanto tempo não fazia isso. De longe me vejo no espelho
do salão. Toda vez que tento ficar bonita sua lembrança volta. Respiro,
respiro. Vai passar. De volta à casa as tarefas domésticas me mantêm ocupada. Depois
ganho maquiagem pelas mãos da filha. Subo a rua. Chego cheia de coisas na
sacola. Beijo o filho, passo sua camisa. Convidados chegando, mesa posta,
música. Família. Comida. Alegria. Hora do brinde. Procuro meu antigo
companheiro, pai dos meus filhos. Peço para dar o braço a ele. Ficamos assim em
silêncio. E assim assistimos à cena. Cartas lindas de amor trocadas pelo casal
que se une. Lágrimas saltam dos olhos. Abraços, bênçãos. Que deus proteja o
amor de vocês. A festa continua, mais solta. Danço. Bebo. Por dentro agradeço.
São tantos que nos cercam. Rose e sua família, pessoas tão especiais. Minha
mãe, a rainha. Meus filhos, amores. Seus amores, pessoas bonitas. Meus irmãos,
sobrinhos, meus cunhados, primos. Tantas histórias. A família que vem do
planalto. Tão fácil gostar dela. Nossos amigos. O garçom jovem que serve as
bebidas. Tudo nos afeta. Tudo é afeto.
Domingo. Dia de descanso e recomeço. Que a última semana do ano seja
leve.