(Resgatando trechos do diário que escrevia, descubro quando
nasceu a vontade dele virar uma obra.)
12 de outubro de 2009, segunda feira
Estou sozinha,
desde ontem.
Pensei que
conseguiria alguém pra me resgatar da minha solidão. Ninguém veio.
Acho que de
fato me impus esses dias de tortura, porque quando estou com os outros estou
partida, dividida.
Voltou a
vontade de chorar em qualquer lugar e momento, difícil de controlar.
Ontem foi
duro, duríssimo, como todos os domingos, amém.
O dia é tão
pesado que eu deito com dor no corpo e tenho a sensação no dia seguinte de
ressaca, sem ter bebido.
Mas hoje é
feriado, dia de Nossa Senhora Aparecida, e pareço menos
infeliz.
Resolvi limpar
os vidros das janelas, depois de ter acendido uma vela pra minha imagem e
rezado, pedindo pra dar conta da vida, pedindo proteção pros filhos, mãe,
amigos, irmãos.
Os vidros
deram um trabalho danado, como é difícil limpar os vidros! Mas já melhorou
bastante.
Resolvi lavar
roupas na máquina que comprei.
Voltei a
pensar no apartamento como um lugar bom de se viver.
Menos aos
domingos, dia em que gostaria de morar numa praia.
Talvez fosse
melhor.
Eu odeio os
domingos, nem sabia que tanto.
Vou almoçar
sozinha de novo.
Tinha uma
promessa de piscina, água, água...Mas não aconteceu.
Hoje, dia me
que escrevo, é segunda.
Pensei em transformar esse diário em uma
peça.
Poderia se chamar “O ano em que eu
envelheci” ou “Domingo”.
Plantei
manjericão, estou com fé que agora vai pegar.
Estou tomando
um floral e um remédio homeopático pra me ajudar a ver as coisas com clareza.Mas
clareza demais dá medo.
Estou fazendo
bicicleta, por volta de 30 minutos por dia, mas nem todo dia eu consigo.