domingo, 5 de abril de 2015

Domingo de "Páscoa"



Já fiz “quaresma” muitos anos. Ficava sem comer carne e sem tomar cerveja, que na época gostava mais, por quarenta longos dias. Ia à igreja, assistia comovida a encenação da paixão, acompanhava a procissão que passava em frente da minha casa. Era bom ouvir os sinos bem cedinho, o céu ainda escuro e a cantoria. Muitas vezes levei as crianças e fomos percorrendo as ruas do bairro, cobertas de serragem, em tapetes bem singelos. Depois havia missa na Igreja de Santo Antônio da Vila Belém. Na volta passava na padaria, comprava pão e levava pra tomar café em casa. A alma agradecida e mais leve, depois de tanto sofrimento.

Um belo dia, depois de tantos trancos, pensei: não quero mais fazer isso. Acho que nas minhas preces pedia coisas erradas, coisas que estavam fora de mim. Pensando no meu caminho espiritual vejo que desde que tive filhos voltei a ter vontade de rezar. De agradecer o mistério da vida. De encontrar meu caminho para o divino. Mas de uma hora pra outra a religião recebida da família ficou insuficiente. E a cada dia busco outras fontes, outras crenças. “Reza é que sara da loucura”, “religião bebo de todas”...penso como Riobaldo Tatarana,  jagunço no sertão de Rosa.


Mas na minha casa tenho um pequeno altar com imagens de Nossa Senhora Aparecida, a madrinha. E da Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Quero ter um pequeno Buda também. Perto das conchas e cristais. O altar é inspirado em minha avó, Páscoa. A delicadeza em pessoa. Anjo da guarda que me protege pelas sendas dessa estrada. Seu altar tinha sempre rosas, colhidas do jardim. Ainda terei. Em sua homenagem no domingo de hoje mantemos a tradição: fazemos um lanche, reunindo a família. (das datas católicas, que ainda me afetam, é minha preferida).  Cada um prepara algo, como ela fazia. E celebramos juntos a ressurreição. 

A nossa.

Feliz Páscoa!

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