Ontem dormi antes das dez, com o
gato nos pés da cama. Isso tornou o sono leve, com medo de machucar o bichano, pequeno companheiro nessa aventura de fazer da casa amarela um palco.
Acordei cedo, na ansiedade de ver
tudo logo arrumado, a dona de casa eficiente e rápida me invade. Calma, digo
pra mim mesma. Aos poucos vou conseguindo domá-la. Tomo café mais reforçado,
nesses dias nem consigo almoçar, preciso estar faminta. Parece que inversamente
é o estômago vazio que garante a energia, o chacra solar é o mais ativado.
Domingo é um corpo em ação e reação. Um corpo queimando. Acendo um incenso e
rezo no pequeno altar. Nenhum pedido hoje. Pedi tanto nos dias anteriores. Reza
que sara da loucura, já diria mestre Rosa. Acredito. Mas hoje só agradeço. Recebi
muito.
Vou à rua comprar coisas que
faltam para o preparo dos alimentos. Broa de fubá com goiabada e pão de queijo.
Com o ar fresco no rosto, observo o domingo de cada um no caminho. Dia mais lento,
mais leve?
Depois varro o passeio em frente
ao quintal e toda a casa. Passo pano em cada cômodo, gosto de arrumar onde
habito. Ajuda a organizar meu caos interior. Quero que as pessoas gostem daqui,
se sintam acolhidas.
Aplaino a terra, lavo os vidros, escolho
um pedaço de carvão, deixo perto do muro. Encho a bacia de água. Separo o papel
do barquinho. Coloco os vestidos no lugar.
Na cozinha começo a fazer as
comidas. Penso, penso, penso. Como gostaria de meditar por horas e não precisar
“pensar”. Mas penso. A diferença é que agora existe uma calmaria. Um
compreender. Um olhar mais generoso comigo. Tudo isso é fruto da solidão dos
domingos e desse Domingo que hoje se abre para outros.
Já me sinto feliz por ter
conseguido. Junto com a Denise, amiga essencial. Ela está comigo em cena. E
tantas outras mulheres. Familiares, parceiros e amigos acarinham, escrevem,
apoiam. Tocar as pessoas fortalece, impulsiona. Repenso a arte, o teatro que
faço há tantos anos. Que bom ter conseguido não desistir. Tudo que vier agora é
soma. É vida nova em seu fluxo infinito e belo.
Lembro-me do conselho de Hamlet
aos atores: “Ide preparar-vos”.
É o que faço agora.
O resto é medo e coragem.
Bom domingo.
Bom-dia, Cida! Também, pela manhã, li a matéria sobre o espetáculo "Domingo", no jornal O Tempo. O poema SEM FIM me deixou sem fôlego. Como colocar tanta coisa em apenas doze versos. Conciso, e vasto, e denso,e completo... Desejo sucesso na sua estreia. Gostaria muito de assisti-la hoje, mas sei que os ingressos já devem ter-se esgotado. Receba o meu abraço.
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