Tirando as paixões juvenis que
deixaram marcas profundas por serem as primeiras, a mulher vivera até hoje dois
grandes amores. Em tudo diversos.
O primeiro chegou depois de
relações incompletas, instáveis. Gostava das coisas bem claras. (Sua frase
preferida era “não foi isso que a gente combinou...”). Queria desde cedo alguém
pra dividir a vida, ter filhos, construir casa, trabalhar. E quando encontrou essa
pessoa a entrega foi imediata. O namoro durou poucos meses e já estavam juntos.
Lembra até hoje do seu vestido curto de noiva, sem grinalda e da escadaria
imensa ao sair da Igreja pequena. E dos bombons de uva com doce de leite, que
levaram para a lua de mel. A paixão em pouco tempo virou amor. Logo eram duas
cabras montanhesas, subindo aquela cadeia de montanhas, fortes e serenos, duros
como as rochas da escalada. Em muitos momentos admiraram a vista, respiraram e
prosseguiram. “Horinhas de descuido”, de verde e água, de namoro e renovação
dos votos. Acontece que muitas vezes com a cabeça baixa, não viram quando
começaram a trilhar caminhos diferentes, naquela lida que exigia suor e
paciência. No fim de uma tarde qualquer constataram que a distância aumentara e
era impossível retornar. Cada um agora devia seguir sozinho. Mas da montanha
vizinha um avistava o outro e pensava: ele está lá. Foi um amor longo, duradouro e
sólido como aquelas paredes de pedra. Deu filhos e frutos. Permaneceu um
carinho profundo e uma promessa de que quando ficarem velhinhos podem viver
juntos novamente.
O segundo chegou no silêncio. Na
solidão de um pequeno apartamento, curtido pela tristeza e desesperança.
Arrebatou com sua poesia, era o desconhecido. Contra todas as convenções. Uma
paixão adolescente na madureza, risco corrido com gosto e um pouco de medo.
Leve, fluido e ainda assim ardia como o fogo. Logo eram dois pássaros furando
as nuvens róseas, planando sobre o mundo do pequeno cotidiano, lá embaixo.
Foram também peixes, mergulhando em cachoeiras doces e mares salgados. Foram
flores e estrelas. Metáforas infinitas. Celebração da vida em gestos, imagens,
palavras. A paixão virou amor, se estendeu em tempo e espaço e também ergueu
casa. A casa amarela de grades azuis.
Naquele santuário o amor fez promessas de eternidade e de ser sempre leal. E veio uma paz. Nada podia contra aquele sentimento.
Nada. Assim pensava(m). Esquecendo a natureza das coisas da natureza. Fogo,
vento e água não se domam. Um dia, sem aviso, escorreu, voou, queimou. E assim
como veio se foi. Permaneceu o silêncio, nenhuma promessa.
Na terra desolada a
pássara ferida voltou para o ninho e buscou abrigo entre os seus.
O terceiro será firme como a
montanha, mas deixa passar o vento, abriga a água e sustenta o fogo.
Quero agora um amor do meio.
Estou lendo o seu blog, Cida. E gostando muito. Quando cheguei neste texto, não pude deixar de lhe escrever. Quer saber o por quê? Quando puder leia: http://conversaliteraria.blogspot.com.br/2014/02/eu-fonte-ponte-enoite.html
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